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O Fabuloso Pilar de Delhi

Escrito por REGINALDO DOS SANTOS AURESLINO em 10/09/2017

 

Eu canso de dizer que tecnologia não é computador, não é acessar internet ou usar smartphone pra baixar joguinho. Os homens da Antiguidade já dispunham de tecnologia. Que diabo! Uma alavanca é ferramenta tecnológica! Mas algumas obra são fenomenais e mostram a engenhosidade dos "tempos de antigamente", Eu nem menciono as pirâmides, que é arroz de festa. No Oriente podemos ver coisas que faz de nossos índios… bem, índios: pessoas que mal saíram da Idade da Pedra e nem sabiam o que era fogo até Bartolomeu Bueno da Silva ganhar o apelido "Anhanguera" (não sabe do que estou falando? Livros: leia-os!).

Na cidade de Delhi, Índia, há um pilar. Ele é conhecido por Pilar de Delhi, mas sua fama não é pela originalidade do nome e sim por ele ser o que é: uma maravilha em termos de arte e técnica. Um pilar de mais de mil anos, feito de ferro e em melhor estado que muito "aço inox" vendido por aí.

Queiram, por gentileza, pegar o LIVRO DOS PORQUÊS, capítulo "Civilizações", subdivisão "Índia"

 

Primeiro de tudo, temos que entender quem era a Índia, que há muitos séculos era bem diferente do que temos hoje.

A bem da verdade, a Índia já tinha divisões de castas, gente pobre, ricaços e um excelente desenvolvimento científico e tecnológico. Enquanto isso, hoje mandam uma sonda pra Martee o Brasil criou um ICBM sem carga explosiva. Uma das mais magníficas cidades de lá foi Harappa, uma cidade na civilização do Indo, que floresceu em torno de 2600-1700 A.E.C, na parte ocidental do sul da Ásia. Atualmente, o sítio arqueológico de Harappa fica na província do Punjab, Paquistão, o que deve deixar os indianos muito felizes.

Enquanto os povos semíticos ainda estavam bundeando em tribos à sombra de impérios de verdade e Egito, Assíria, Hitita e Babilônios ficavam de olho uns nos outros, prontos para criarem a Primeira Guerra Mundial, os harappeanos estavam lá, belos e formosos, no máximo com outro império como vizinho mais próximo: China.

Nós glorificamos as ciências exatas egípcia e da Mesopotâmia, mas em Harappa já havia padrões de medidas, usando cubos de madeira de diferentes tamanhos para servirem de peso-padrão, 1que chegaram a ser utilizados em outras cidades, como Mohenjo Daro e Dholavira, cidades muito bem planejadas, com ruas largas, poços públicos e privados, drenos, casas de banho e reservatórios, que não devem nada à Roma e que mostram como cidades como Rio de Janeiro e São Paulo são vergonhosas. Encaremos os fatos: Olha o LIXO de desenvolvimento urbano que temos HOJE e o que tinham há cerca de 4000 anos! (a propósito, você será um bom menino e clicar na imagem acima para ver em tamanho maior, não é?)

Os cubos acima possuem tamanhos graduados, e estão em conformidade com o sistema binário harappeano. São pesos-padrão usados em todos os assentamentos. O menor peso nesta série é 0,856 gramas e o peso mais comum é de aproximadamente 13,7 gramas, que é na proporção de 16. Nos grandes pesos do sistema tornam-se um aumento decimal onde o maior peso é 100 vezes o peso da proporção 16 no sistema binário. Estes pesos foram encontrados em escavações recentes em Harappa e pode ter sido usado para controlar o comércio e, possivelmente, para a recolha de impostos.

Outras informações sobre Harappa podem ser vistas no site oficial: www.harappa.com

Não que o Pilar de Delhi seja obra dos harappeanos. Nada disso. Eu citei a referida civilização para mostrar que muito anteriormente eles dispunham de conhecimento em engenharia, matemática etc. Dessa forma, não me assombra em nada a existência do Pilar. Me causa admiração e fascínio.

É um erro idiota achar que o povo da Antiguidade era imbecil e não poderia ter criado nada. Você fala isso tendo um micromicrocomputador nas mãos (aka, smartphone) e não consegue deduzir as 3 Leis de Kepler, cuja matemática envolvida estaria no nível de estudante de Ensino Médio, mas qual estudante de Ensino Médio consegue? Não importa se Kepler demorou 30 anos pra isso, ele fez, e sem o auxílio de um telescópio. Kepler era Kepler, você é você e os povos antigos eram… bem, eles eram eles.

O Pilar de Delhi está ali, desafiando o tempo. Uma ode a antigos artesãos e ferreiros que há muito dominaram uma técnica hoje esquecida, muito, muito tempo antes de outros povos sequer terem chegado na Idade do Ferro. Ali não é apenas ferro fundido. É uma escultura, uma poesia sólida desdenhando de nos, tolos mortais, fadados ao eterno sono.

A maravilha artesanal (e eu falo "artesanal" na melhor das expressões) não está só nos detalhes do topo do pilar – que são incríveis! – mas também no fato que a coluna é quase ferro puro. Ela possui sete metros de altura e está localizada no Complexo de Qutb, localizado na cidade de Delhi, mas especula-se se ela realmente tenha sido fabricada lá.

A coluna traz inúmeras inscrições em sânscrito. Algumas delas datam de cerca de 400 anos, mas isso não pode ser usado para datar o pilar, já que é muito comum governantes escreverem sua propagandazinha particular em monumentos pré-existentes.

Com relação à maravilha do pilar não apresentar vestígios de deterioração deixa intrigadas várias pessoas. Como é possível não ter ferrugem ali? No livro Carruagens dos Deuses (Charriots of Gods, no original), Erick von Däniken discute, usando seu modo idiota, como seria possível uma coluna com 4000 anos de idade não apresentar corrosão. Seu modo tacanho se baseia no módulo "eu não sei como isso aconteceu e estou com preguiça de procurar um cientista. Logo, foram extraterrestres". Ferro enferruja, sabemos disso. Se não está enferrujado, algum poder superior agiu ali, como extraterrestres, Vishnu, apsaras ou mesmo Jesus quando foi à Índia (eu sei que ele ele nunca foi lá, mas tem maluco que acredita nisso, assim como tem gente que acredita em cobras falantes).

A explicação é simples à vista da Química e da Ciência dos materiais. Primeiramente, o ferro que tem ali não é nem aço. Aço possui átomos de carbono em regiões intersticiais do retículo cristalino do ferro. A coluna é cerca de 99% de ferro puro, com quantidades de enxofre e… fósforo. Isso faz toda a diferença.

Outro detalhe é que a coluna ESTÁ SIM oxidada. Vejam que o desgaste está lá, mas não tanto. Olhe com bastante atenção as fotos e responda: A coluna apresenta aquele brilho metálico característico? Não, está fosca. O ferro puro não se oxida como o aço, estaria mais próximo do alumínio, que se oxida formando uma camada  impermeável e pouco condutiva de eletricidade. A camada de óxido de alumínio protege o metal e é por isso que o usamos largamente, apesar do seu potencial de oxidação ser muito superior ao do ferro.

O Pilar de Delhi também está protegido por uma camada protetora que se formou devido à combinação fortuita de elevadas quantidades de fósforo e a presença de escória e óxidos de ferro não reduzidos no metal. Na composição, não há a presença de magnésio enxofre, que enfraqueceriam a estrutura cristalina. Podemos ter ideia do que está acontecendo aqui embaixo:

Mild steel é o aço comum, com níveis de carbono em torno de 12%, em média. Sua resistência não é lá essas coisas e como vemos no diagrama, formam-se pequenas rachaduras, por onde entra mais oxigênio, o que acarretará num contínuo ataque químico à peça metálica.

Weathering steel é o aço corten. Suas quantidades de fósforo e cobre conferem uma resistência maior à corrosão, principalmente por causa de uma camada interna amorfa, com uma camada exterior de óxidos de ferro hidratados, ou oxi-hidroxidos de ferro, de fórmula FeOOH (na verdade, a fórmula mesmo é um pouco mais complicada e totalmente dispensável). As formas cristalinas destes óxidos são tais que promovem o crescimento de um filme cristalino impermeável e nem 1000 monções disseram algo a eles. Outras teorias para explicar a resistência à corrosão afirmam que havia uma exposição inicial a um ambiente alcalino e amoniacal e até mesmo o uso de manteiga clarificada durante o fabrico, mas isso já não é tão certo.

A conclusão é que não é obra de deuses, demônios, espíritos angélicos, alienígenas ou tecnologia dos elfos ou dos anões. O que temos ali foi uma técnica usada sem se saber direito o porquê, mas funcionava. A adição de fósforo foi proposital, pois muitas peças de ferro da mesma época não tinham vestígios de fósforo.

Os artesãos sabiam que adicionar compostos fosforados aumentava a resistência, só não tinham a tecnologia de hoje para saberem ao certo o motivo. A microestrutura do ferro da coluna de ferro Delhi é típico de ferro forjado, e as partículas de escória em ferro foram expulsos martelando, o que resultou na presença de partículas de óxido de ferro da escória e não reduzido na microestrutura, criando o filme protetor. O estudo da estrutura cristalina do Pilar de Delhi forneceu muitas pistas sobre a tecnologia dos homens daquela época. A explicação ficou a cargo da Ciência, que sempre explica os porquês, para depois aparecerem no Livro dos Porquês.

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