Hadza
Escrito por ANTONIO PAULO DE AMORIM FERREIRA MORAES em 26/02/2013
Povo Hadza
Há coisas que eu invejo nos hadzas principalmente como parecem viver com liberdade.
Livres de posses, livres de deveres sociais, livres de restrições religiosas, livres das muitas responsabilidades familiares, livres de horários, empregos, patrões, contas, trânsito, impostos, leis, notícias e do dinheiro, livres de preocupações, livres para arrotar e peidar sem desculpas, livres para arranjar comida e correr como o vento sem roupas.
Mas eu jamais poderia viver como os hadzas.
O meu olhar de ocidental me faz julgá-los como vivendo uma loucura insana de um acampamento sem fim, uma vida extremamente arriscada.
O socorro médico está longe, a queda de uma árvore, uma picada de cobra mamba negra, um ataque de leão e você está morto.
As mulheres dão a luz no meio do mato de cócoras.
Cerca de um quinto de todos os bebês morrem no seu primeiro ano de vida e quase a metade de todas as crianças não chegam aos quinze anos de idade.
Eles tem de lidar com a sede diária e calor extremo, com as picadas dos insetos transmissores de malária e com as moscas tsé-tsé.
Os dias que passei com os hadzas mudou a minha vida, minha percepção do mundo.
Eles me transmitiram algo que eu chamo o "efeito hadza", eles me fizeram sentir mais calmo, mais sintonizados com o momento, mais auto-suficiente, um pouco mais corajoso, e não viver numa corrida constante.
Não me importo se isso soa piegas: Meu tempo com os hadzas me fez mais feliz. Me fez desejar que houvesse uma maneira de prolongar o reinado dos caçadores-coletores, que eu sei estão com os dias contados.
Meu corpo, mais do que qualquer coisa sinalizava que era hora de ir embora, de deixar o mato. Fui picado, machucado, fiquei com queimaduras solares, estomatite, chegando ao meu limite e a exaustão, então, após duas semanas, eu disse a todos no acampamento que tinha que partir.
Houve pouca reação.
Os hadzas não são sentimentais assim, eles não fazem despedidas prolongadas, mesmo quando um dos seus morrem, não há manifestações de luto, eles simplesmente cavam um buraco e deitam o corpo dentro. As gerações anteriores nem mesmo faziam isso, eles simplesmente deixavam o cadaver no chão para ser comido pelas hienas.
Não existe uma manifestação de qualquer ritual hadza.
Não há funeral, não existe nenhuma atividade comunitário de qualquer tipo, mesmo que o morto seja uma pessoa que conviveu toda a sua vida com o grupo.
Eles simplesmente atiraram uns poucos galhos secos em cima do túmulo e se afastam.
Referência:
https://ngm.nationalgeographic.com/2009/12/hadza/finkel-text/13
https://sites.google.com/site/thehadzabushmenoftanzania/who-are-the-hadza
Imagem da National Geografic
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